ETAPA - 8
Aula-tema: Romantismo no Brasil – momento histórico e características. As três
gerações poéticas. Principais autores na prosa.
Na maior parte das obras de referências sobre o romantismo no Brasil, a produção poética está dividida em três gerações com características individuais bem definidas. A primeira estaria voltada para o estabelecimento de uma língua literária distinta da matriz portuguesa e, ao mesmo tempo, na sedimentação de uma identidade nacional baseada, principalmente, na valorização da cor local e do índio. A segunda, genericamente chamada de byroniana ou ultra-romântica, privilegiaria a voz poética menos épica e nacionalista em prol da fixação da
individualidade às vezes doentia, deprimente, mas também ingênua, cotidiana e abertamente irônica. A terceira geração, conhecida como condoreira, embora trazendo à cena um sensualismo desconhecido da anterior, fixaria seus traços mais fortes em certo liberalismo político, na observação e interferência social.
Escrever é representar por sinais gráficos (pensamento, idéia etc.); redigir uma mensagem. Riscar sobre uma superfície (palavras, frases, letras caracteres, etc). Criar (obra escrita); compor, redigir um romance [...] Mas para nós, amantes da literatura, é muito mais do que colocar as letras no papel... É aprisionar o céu infinito com a ponta do lápis.
sexta-feira, 4 de junho de 2010
Passo - 01
Passo 1 - Gonçalves Dias (1823-1864) enquadra-se na primeira geração do nosso romantismo.
Sua obra, de fato, opera ainda hoje como espécie de estrela guia no céu da poesia brasileira, sobretudo quando esta procura suas origens nacionalistas tanto nos temas quanto na língua literária. O poema abaixo, no entanto, mostra o poeta manejando elementos típicos de mais de uma geração. Em sua opinião quais seriam eles? Para conhecer mais o autor:
http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/PesquisaObraForm.do?select_action=&co_autor=13 - Acessado em 07 de dezembro de 2009.
SE SE MORRE DE AMOR!
Se se morre de amor! — Não, não se morre,
Quando é fascinação que nos surpreende
De ruidoso sarau entre os festejos;
Quando luzes, calor, orquestra e flores
Assomos de prazer nos raiam n'alma,
Que embelezada e solta em tal ambiente
No que ouve, e no que vê prazer alcança!
Simpáticas feições, cintura breve,
Graciosa postura, porte airoso,
Uma fita, uma flor entre os cabelos,
Um quê mal definido, acaso podem
Num engano d'amor arrebatar-nos.
Mas isso amor não é; isso é delírio,
Devaneio, ilusão, que se esvaece
Ao som final da orquestra, ao derradeiro
Clarão, que as luzes no morrer despedem:
Se outro nome lhe dão, se amor o chamam,
D'amor igual ninguém sucumbe à perda.
Amor é vida; é ter constantemente
Alma, sentidos, coração — abertos
Ao grande, ao belo; é ser capaz d'extremos,
D'altas virtudes, té capaz de crimes!
Compr'ender o infinito, a imensidade,
E a natureza e Deus; gostar dos campos,
D'aves, flores, murmúrios solitários;
Buscar tristeza, a soledade, o ermo,
E ter o coração em riso e festa;
E à branda festa, ao riso da nossa alma
Fontes de pranto intercalar sem custo;
Conhecer o prazer e a desventura
No mesmo tempo, e ser no mesmo ponto
O ditoso, o misérrimo dos entes;
Isso é amor, e desse amor se morre!
Amar, e não saber, não ter coragem
Para dizer que amor que em nós sentimos;
Temer qu'olhos profanos nos devassem
O templo, onde a melhor porção da vida
Se concentra; onde avaros recatamos
Essa fonte de amor, esses tesouros
Inesgotáveis, d'ilusões floridas;
Sentir, sem que se veja, a quem se adora,
Compr'ender, sem lhe ouvir, seus pensamentos,
Segui-la, sem poder fitar seus olhos,
Amá-la, sem ousar dizer que amamos,
E, temendo roçar os seus vestidos,
Arder por afogá-la em mil abraços:
Isso é amor, e desse amor se morre!
Se tal paixão porém enfim transborda,
Se tem na terra o galardão devido
Em recíproco afeto; e unidas, uma,
Dois seres, duas vidas se procuram,
Entendem-se, confundem-se e penetram
Juntas — em puro céu d'êxtases puros:
Se logo a mão do fado as torna estranhas,
Se os duplica e separa, quando unidos
A mesma vida circulava em ambos;
Que será do que fica, e do que longe
Serve às borrascas de ludíbrio e escárnio?
Pode o raio num píncaro caindo,
Torná-lo dois, e o mar correr entre ambos;
Pode rachar o tronco levantado
E dois cimos depois verem-se erguidos,
Sinais mostrando da aliança antiga;
Dois corações porém, que juntos batem,
Que juntos vivem, — se os separam, morrem;
Ou se entre o próprio estrago inda vegetam,
Se aparência de vida, em mal, conservam,
Ânsias cruas resumem do proscrito,
Que busca achar no berço a sepultura!
Esse, que sobrevive à própria ruína,
Ao seu viver do coração, — às gratas
Ilusões, quando em leito solitário,
Entre as sombras da noite, em larga insônia,
Devaneando, a futurar venturas,
Mostra-se e brinca a apetecida imagem;
Esse, que à dor tamanha não sucumbe,
Inveja a quem na sepultura encontra
Dos males seus o desejado termo!
O poema tem estilo byroniano, é uma poesia individualista com excesso de subjetividade. O lírico amoroso ressalta o momento medieval do cavaleirimo; caracteriza-se pelo domínio do amor melancólico.
O sentimento é confundido pelas suas experiências não tão felizes, parece que ele é submisso e serve a dama que ama, assim como quem é capaz de tudo por amor, mesmo que não a tenha ou não a veja, ou ainda, que não tenha coragem de declarar-se.
Sua obra, de fato, opera ainda hoje como espécie de estrela guia no céu da poesia brasileira, sobretudo quando esta procura suas origens nacionalistas tanto nos temas quanto na língua literária. O poema abaixo, no entanto, mostra o poeta manejando elementos típicos de mais de uma geração. Em sua opinião quais seriam eles? Para conhecer mais o autor:
http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/PesquisaObraForm.do?select_action=&co_autor=13 - Acessado em 07 de dezembro de 2009.
SE SE MORRE DE AMOR!
Se se morre de amor! — Não, não se morre,
Quando é fascinação que nos surpreende
De ruidoso sarau entre os festejos;
Quando luzes, calor, orquestra e flores
Assomos de prazer nos raiam n'alma,
Que embelezada e solta em tal ambiente
No que ouve, e no que vê prazer alcança!
Simpáticas feições, cintura breve,
Graciosa postura, porte airoso,
Uma fita, uma flor entre os cabelos,
Um quê mal definido, acaso podem
Num engano d'amor arrebatar-nos.
Mas isso amor não é; isso é delírio,
Devaneio, ilusão, que se esvaece
Ao som final da orquestra, ao derradeiro
Clarão, que as luzes no morrer despedem:
Se outro nome lhe dão, se amor o chamam,
D'amor igual ninguém sucumbe à perda.
Amor é vida; é ter constantemente
Alma, sentidos, coração — abertos
Ao grande, ao belo; é ser capaz d'extremos,
D'altas virtudes, té capaz de crimes!
Compr'ender o infinito, a imensidade,
E a natureza e Deus; gostar dos campos,
D'aves, flores, murmúrios solitários;
Buscar tristeza, a soledade, o ermo,
E ter o coração em riso e festa;
E à branda festa, ao riso da nossa alma
Fontes de pranto intercalar sem custo;
Conhecer o prazer e a desventura
No mesmo tempo, e ser no mesmo ponto
O ditoso, o misérrimo dos entes;
Isso é amor, e desse amor se morre!
Amar, e não saber, não ter coragem
Para dizer que amor que em nós sentimos;
Temer qu'olhos profanos nos devassem
O templo, onde a melhor porção da vida
Se concentra; onde avaros recatamos
Essa fonte de amor, esses tesouros
Inesgotáveis, d'ilusões floridas;
Sentir, sem que se veja, a quem se adora,
Compr'ender, sem lhe ouvir, seus pensamentos,
Segui-la, sem poder fitar seus olhos,
Amá-la, sem ousar dizer que amamos,
E, temendo roçar os seus vestidos,
Arder por afogá-la em mil abraços:
Isso é amor, e desse amor se morre!
Se tal paixão porém enfim transborda,
Se tem na terra o galardão devido
Em recíproco afeto; e unidas, uma,
Dois seres, duas vidas se procuram,
Entendem-se, confundem-se e penetram
Juntas — em puro céu d'êxtases puros:
Se logo a mão do fado as torna estranhas,
Se os duplica e separa, quando unidos
A mesma vida circulava em ambos;
Que será do que fica, e do que longe
Serve às borrascas de ludíbrio e escárnio?
Pode o raio num píncaro caindo,
Torná-lo dois, e o mar correr entre ambos;
Pode rachar o tronco levantado
E dois cimos depois verem-se erguidos,
Sinais mostrando da aliança antiga;
Dois corações porém, que juntos batem,
Que juntos vivem, — se os separam, morrem;
Ou se entre o próprio estrago inda vegetam,
Se aparência de vida, em mal, conservam,
Ânsias cruas resumem do proscrito,
Que busca achar no berço a sepultura!
Esse, que sobrevive à própria ruína,
Ao seu viver do coração, — às gratas
Ilusões, quando em leito solitário,
Entre as sombras da noite, em larga insônia,
Devaneando, a futurar venturas,
Mostra-se e brinca a apetecida imagem;
Esse, que à dor tamanha não sucumbe,
Inveja a quem na sepultura encontra
Dos males seus o desejado termo!
O poema tem estilo byroniano, é uma poesia individualista com excesso de subjetividade. O lírico amoroso ressalta o momento medieval do cavaleirimo; caracteriza-se pelo domínio do amor melancólico.
O sentimento é confundido pelas suas experiências não tão felizes, parece que ele é submisso e serve a dama que ama, assim como quem é capaz de tudo por amor, mesmo que não a tenha ou não a veja, ou ainda, que não tenha coragem de declarar-se.
Passo - 02
Passo 2 - Considerando o que foi solicitado como tarefa para o passo 3 da etapa n º 7, realize a mesma análise comparativa, mas, agora, sobre a relação amorosa estabelecida entre as personagens Iracema e Martin Soares Moreno, do romance Iracema (1865), de José de Alencar (1829-1877). Para tanto, você deve necessariamente levar em consideração a tendência nacionalista inaugurada pelo romantismo brasileiro, notando, assim, o quanto nossos escritores traduzem localmente muitos dos temas vindos a partir de Portugal. Para ler o romance de José de Alencar: http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/DetalheObraForm.do?select_action=&co_obra=2029 - Acessado em 07 de dezembro de 2009.
A relação amorosa entre Iracema e Martim é a representação da união das duas raças, portuguesa e brasileira. Os feitos heróicos dos portugueses são exaltados na figura de Martim, mas também Iracema é transformada em heroína, pois a história é narrada sobre o seu ponto de vista, privilegiando os sentimentos do índio e não os do colonizador. É um romance épico narrado em 3ª pessoa mas também com muitas características líricas, diríamos que é um romance quase poesia, onde o autor tenta captar o mundo selvagem do indígena, tal qual ele é, tentando construir uma linguagem brasileira através do uso de termos indígenas. O romance é cheio de simbolismo,e metáforas, onde Iracema representa a terra brasileira(o próprio nome Iracema é anagrama de América) , virgem e exótica que ao se entregar para Martim(colonizador) permite a sua própria destruição.
Nas duas obras há a interferência de uma bebida mágica (presença do maravilhoso) que causa a transgressão social, o licor de jurema, uma espécie de alucinógeno utilizado pelos indígenas e a poção mágica que fez com que Tristão e Isolda se apaixonassem.Também o embate entre o amor paixão e o sofrimento, estão presentes em ambas as obras.O amor cortês, que leva Tristão à vassalagem amorosa também faz de Iracema escrava de seu amor. Não existe a morte platônica, como na lírica trovadoresca, nas duas obras a morte acontece realmente. Em Tristão e Isolda os dois morrem um pelo outro, em Iracema e Martim, apenas ela se entrega à morte; a morte aqui é voluntária, com caráter nobre, capaz de superar todos os obstáculos. O erotismo e a sexualidade também estão presentes entre ambos os casais, mas entre Iracema e Martim a sexualidade visa também a reprodução que tem caráter social, político e econômico, pois seu fruto (Moacir, filho de Iracema e Martim) é a representação da miscigenação. Enfim, a relação amorosa dos casais em foco, é marcada pela dor, pelo sofrimento e inquietude que levam os casais a encararem sem medo o drama existencial.
BIBLIOGRAFIA
Disponível em: http://revistaseletronicas.pucrs.br/fo/ojs/index.php/famecos/article/viewFile/859/646
- Acesso em: 26 maio 2010.
A relação amorosa entre Iracema e Martim é a representação da união das duas raças, portuguesa e brasileira. Os feitos heróicos dos portugueses são exaltados na figura de Martim, mas também Iracema é transformada em heroína, pois a história é narrada sobre o seu ponto de vista, privilegiando os sentimentos do índio e não os do colonizador. É um romance épico narrado em 3ª pessoa mas também com muitas características líricas, diríamos que é um romance quase poesia, onde o autor tenta captar o mundo selvagem do indígena, tal qual ele é, tentando construir uma linguagem brasileira através do uso de termos indígenas. O romance é cheio de simbolismo,e metáforas, onde Iracema representa a terra brasileira(o próprio nome Iracema é anagrama de América) , virgem e exótica que ao se entregar para Martim(colonizador) permite a sua própria destruição.
Nas duas obras há a interferência de uma bebida mágica (presença do maravilhoso) que causa a transgressão social, o licor de jurema, uma espécie de alucinógeno utilizado pelos indígenas e a poção mágica que fez com que Tristão e Isolda se apaixonassem.Também o embate entre o amor paixão e o sofrimento, estão presentes em ambas as obras.O amor cortês, que leva Tristão à vassalagem amorosa também faz de Iracema escrava de seu amor. Não existe a morte platônica, como na lírica trovadoresca, nas duas obras a morte acontece realmente. Em Tristão e Isolda os dois morrem um pelo outro, em Iracema e Martim, apenas ela se entrega à morte; a morte aqui é voluntária, com caráter nobre, capaz de superar todos os obstáculos. O erotismo e a sexualidade também estão presentes entre ambos os casais, mas entre Iracema e Martim a sexualidade visa também a reprodução que tem caráter social, político e econômico, pois seu fruto (Moacir, filho de Iracema e Martim) é a representação da miscigenação. Enfim, a relação amorosa dos casais em foco, é marcada pela dor, pelo sofrimento e inquietude que levam os casais a encararem sem medo o drama existencial.
BIBLIOGRAFIA
Disponível em: http://revistaseletronicas.pucrs.br/fo/ojs/index.php/famecos/article/viewFile/859/646
- Acesso em: 26 maio 2010.
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