Passo 2 - Além dos lugares comuns mencionados na etapa anterior sobre a poesia árcade, segundo a opinião da maioria dos críticos e historiadores, poetas como Claudio Manuel da Costa (1729-1789), Tomás Antonio Gonzaga (1744-1810), Silva Alvarenga (1749-1814) e Domingos Caldas Barbosa (1739-1800)teriam colaborado para uma primeira apreensão poética da terra brasílica e para fundar um dos traços distintivos da poesia nacional em relação à portuguesa: a suavidade lírica, a musicalidade deslizante. Ambas as características, que se tornariam essenciais e até programáticas no período romântico, nas palavras de Antonio Candido, fizeram com que na poesia de Alvarenga, por exemplo, “os contornos da natureza” adquirissem “fluidez musical”. Leia os dois poemas abaixo – o primeiro de Claudio Manuel da Costa, o segundo de Tomás Antonio Gonzaga – indicando e justificando se neles existem e quais seriam: a) as características típicas do arcadismo; b) os recursos rítmicos e lingüísticos que dão “fluidez musical” ao texto.
Para aprofundar os conhecimentos sobre a obra de Claudio Manuel da Costa e Tomás
Antonio Gonzaga, visite respectivamente:
http://www.cce.ufsc.br/~nupill/literatura/claudio.html e
http://www.cce.ufsc.br/~nupill/literatura/gonzaga.html Acessados em 06 de dezembro
de 2009.
a) as características típicas do arcadismo:
O Arcadismo teve duas fases: a primeira marcada pelo espírito neoclássico e a segunda marcada por manifestações pré-românticas.
O Arcadismo reagiu contra os exageros verbais do Barroco, propondo a clareza, a simplicidade e o equilíbrio clássico.
Cláudio Manuel da Costa marcou o inicio do Arcadismo no Brasil, sendo considerado o representante mais significativo dessa escola literária.
O autor teve influencia da tradição poética do século XVI, cujo nome mais importante é Camões.
Apesar de apresentar traços do Barroco em certos casos, a poesia arcádica é um modelo de simplicidade e objetividade, se comparada com as obras do período anterior.
Nessa simplificação de linguagem encontramos no verso sem rima, na singeleza do vocabulário e na menor incidência de comparações e antíteses.
Foi um poeta de transição muito preso às imagens do Barroco, não conseguindo se desligar dos cenários dominados por pedras, rochas, grutas e penhascos, indicando as raízes de sua região natal (paisagens de Minas), viu na natureza um consolo para suas aflições.
Outra presença constante é a mulher amada, a pastora Nise citada na estrofe VIII:
VIII
Nise, que a cada instante
Teu números ouvia,
Ou fosse noite, ou dia,
Jamais não te ouvirá.
Cansado o peito amante
Somente ao desengano
O culto soberano
Pretende tributar.
Na estrofe IX aparecem figuras mitológicas, outra característica do Arcadismo, com as citações de Aracne, uma mortal tecelã amaldiçoada pela Deusa Minerva:
IX
De todo enfim deixada
No horror deste arvoredo,
Em ti seu tosco enredo Aracne tecerá.
Em paz se fique a amada,
Por quem teu canto inspiras;
E tu, que a paz me tiras,
Também te fica em paz.
Os motivos bucólicos, neoclássicos e o idealismo platônico são as principais características de sua poesia.
A obra “Marilia de Dirceu” de Cláudio Manuel da Costa, é a lírica amorosa mais popular da literatura de língua portuguesa. É dividida em 3 partes:
Na 1ª estão os poemas escritos na época anterior à prisão do autor, já a 2ª e a 3ª parte foram escritas na prisão da ilha das Cobras e os poemas exprimem a solidão de Dirceu, saudoso de Marília.
Mas vamos citar as características da 1ª parte que é dividida em 33 liras, em especifico a lira IV.
Nessa lira, o autor canta a beleza de sua "pastora" Marília (Maria Dorotéia Joaquina de Seixas):
Marília, teus olhos
São réus, e culpados,
Que sofra, e que beije
Os ferros pesados
De injusto Senhor.
Marília, escuta
Um triste Pastor.
Nessa outra passagem o autor parece descrever quando a paixão revelou-se em sua vida, traduzindo os anseios e nervosismos muito comuns aos apaixonados, principalmente quando estes se deparam com a pessoa especial:
Mal vi o teu rosto,
O sangue gelou-se,
A língua prendeu-se,
Tremi, e mudou-se
Das faces a cor.
Marília, escuta
Um triste Pastor.
A vista furtiva,
O riso imperfeito,
Fizeram a chaga,
Que abriste no peito,
Mais funda, e maior.
Marília, escuta
Um triste Pastor.
De maneira geral a busca pela clareza, simplicidade, equilíbrio é feita a partir do modelo da natureza onde entra o Bucolismo com referências permanentes ao campo e à vida pastoril idealizada pelos árcades:
Dispus-me a servir-te;
Levava o teu gado
À fonte mais clara,
À vargem, e prado
De relva melhor.
Marília, escuta
Um triste Pastor.
Se vinha da herdade,
Trazia dos ninhos
As aves nascidas,
Abrindo os biquinhos
De fome ou temor.
Marília, escuta
Um triste Pastor.
Nesta outra parte da lira, o autor denota preferência pelo verso leve, tratado com facilidade:
Se alguém te louvava,
De gosto me enchia;
Mas sempre o ciúme
No rosto acendia
Um vivo calor.
Marília, escuta
Um triste Pastor.
Se estavas alegre,
Dirceu se alegrava;
Se estavas sentida,
Dirceu suspirava
À força da dor.
Marília, escuta
Um triste Pastor.
Os temas evidentes em Gonzaga são:
• Carpe diem – em latim, “colhe o dia que passa”. Em face da transitoriedade da vida, dá-se aqui o convite a gozar o momento presente.
• Locus amoenus – lugar tranqüilo, ameno, onde se pode encontrar a paz.
• Aurea medocritas – expressão latina que simboliza a existência sem sobressaltos, sem ambições de glória ou de fortuna, o meio termo saudável (este se liga ainda com a corrente filosófica do estoicismo).
• Imitilia truncat – cortar as inutilidades, os exageros, buscar satisfação naquilo que é simples (há também uma analogia com o estoicismo).
• Fugere urbem – expressão latina que indica fugir da cidade, buscar a natureza, o paraíso perdido (a natureza torna-se o locus amoenus).
De fato, esses temas são presentes e constantes na Lira IV. Predomina o convencionalismo arcádico onde se constata com mais intensidade a presença do bucolismo, da imitação, da vida simples junto à natureza e do pastoralismo.
Não é somente a persistência nesses elementos tradicionais da poesia que define o seu estilo, mas, sobretudo as novidades sentimentais acrescidas a uma literatura derrancada no esforço de remoer, sem cessar, a antiguidade.
b) os recursos rítmicos e lingüísticos que dão “fluidez musical” ao texto.
A cançoneta "À Lira desprezo” está escrita em versos brancos com dois versos em cada estrofe que rimam entre si, sujeitas ao esquema rímico ABBC ADDE.
A musicalidade e o ritmo da leitura são proporcionados pela métrica alternada dos versos junto das rimas.
Na Lira IV "Marilia de Dirceu", a estrutura métrica é uma versificação pouco variada e a par dos versos de quatro sílabas (células métricas). Vêm a redondilha menor com acentuação na 2ª e 5ª sílaba; o heróico quebrado sempre em combinação e a redondilha maior; o decassílabo.
Há uma refinada simplicidade neoclássica com uma dicção aparentemente direta e espontânea, um ritmo agradável, suavizado pelos versos curtos, pela alternância de decassílabos e hexassílabos, pelo uso do refrão e dos versos brancos.
Marília, escuta
Um triste Pastor.
Nesse refrão encontramos uma marca forte e evidente de musicalidade que dá ritmo ao poema.
Bibliografia:
Disponível em: http://www.passeiweb.com/na_ponta_lingua/livros/analises_completas/m/marilia_de_dirceu
- Acesso em: 18 mar. 2010.
Disponível em: http://www.graudez.com.br/literatura/obras/tagonzaga.htm - Acesso em: 18 mar. 2010.
Disponível em: http://www.portrasdasletras.com.br/pdtl2/sub.php?op=resumos/docs/marilia - Acesso em: 19 mar. 2010.
Disponível em: http://www.mafua.ufsc.br/rachelpantalena.html - Acesso em: 20 mar. 2010.
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