quarta-feira, 3 de março de 2010

Passo 01

Martin Codax

Mia irmãa fremosa, treides comigo
nunca bem
a la igreja de Vig’, u é o mar salido:
mais amou,
e miraremo’-las ondas.
receou

Mia irmãa fremosa, treides de grado
moir’eu!
a la igreja de Vig’, u é o mar levado:
e miraremo’-las ondas.
foi amar

fazer,
A la igreja de Vig’, u é o mar salido,
Deus veer
e verrá i, madre, o meu amigo:
pesar:
e miraremo’- las ondas.
moir’eu!

A la igreja de Vig’, u é o mar levado,
ensandeceu,
e verrá i, madre, o meu amado:
e miraremo’-las ondas.


Esta é uma cantiga de amigo considerada das mais importantes da lírica trovadoresca galaico-portuguesa, datada de uma época indeterminada dentro do período que compreende a segunda metade do século XIII e talvez também os inícios do XIV (Idade Medieval).
Esta Cantiga é do tipo em que a moça canta às águas a espera do amado e clama pela sua volta, pedindo o auxílio do mar, do rio ou uma pessoa.
Nela, vê-se uma estruturação simples, onde cada par de estrofes mantém forma semelhante com pequenas variações semanticamente apoiadas; é o chamado paralelismo semântico.

O refarão encontra-se nas passagens:

a la igreja de Vig’, u é o mar salido:
e miraremo’-las ondas.

e
a la igreja de Vig’, u é o mar levado:
e miraremo’-las ondas.


O sistema de rimas utilizado é o abab.

Paio Soares de Taveirós

Como morreu quen
ouve da ren que
e quen viu quanto
d'ela e foi morto por én:
ai, mia Senhor, assi


Como morreu quen
quen lhe nunca quis ben
e de que[n] lhe fez
de que foi morto con
ai, mia Senhor, assi
Com'ome que
senhor, com gran pesar que viu,
e non foi ledo nem dormio
depois, mia Senhor, e morreu:
ai, mia Senhor, assi moir'eu!

Como morreu quen amou tal
dona que lhe nunca fez bem,
e quen a viu levar a quen
a non valia, nen a val:
ai, mia Senhor, assi moir'eu!

Esta é uma cantiga de amor e nela encontram-se os principais sintomas da paixão trovadoresca, tais como a “sandece”, a perda do contentamento, a insônia e, finalmente, a morte de amor. De forma sucinta, pode-se admitir que as quatro estrofes buscam exprimir uma mesma idéia, a de que o amador está morrendo como morreu quem muito amou uma dama “que lhe nunca quis bem fazer”. Cumpre destacar, por conseguinte, que nesta obra figuram, além do amante e da senhor, mais duas personagens: uma delas é o rival, o antagonista, que levou a dama e, segundo o poeta, “a non valia, nen a val”; a outra, embora desconhecida e sem participar do drama suscitado pela poesia, serve como modelo e referência para o artista, em virtude de a sua história caracterizá-la como um arquétipo do amador, de acordo com o código cortês. A ele compara-se o trovador, por conhecerem ambos o sofrimento, a “coita” de amor, que tende à morte.
Tema: não correspondência amorosa, fatalismo de amor.
Assunto: o sujeito lírico compara-se a alguém que morreu de amor porque a sua "senhor" nunca o amou "nunca ben/ouve da ren que mais amou" e, assim, também ele morre.
Recursos estilísticos:
anástrofe: "ben/ouve" que reflecte uma certa tensão emotiva, que é bem sugerida pela paronomásia "ben/ren";
polissíndeto que cria uma certa progressão no discurso, para sugerir o trágico da situação, "e foi morto por en" que é bem reforçada pela gradação ascendente: ele nunca "ben/ouve", "receou d' ela e foi morto por en" e toda a tensão dramática se esgota no refrão, num queixume dado pela interjeição "ai" seguida da apóstrofe "senhor" e ele confessa a sua dor;
paralelismo anafórico e semântico na segunda estrofe que continua numa progressão dramática através do polissíndeto, da gradação e da anástrofe; a aliteração da fricativa "v" em "e quen a viu levar a quen/a non valia, nen a val," parece aproximar-nos da realidade e imprimir o movimento da partida, juntamente com o imperfeito que dá o carácter durativo da acção.
Forma:
cantiga de amor com refrão, coplas singulares, cada estrofe tem a sua rima de octossílabos agudos e os versos têm o seguinte esquema rimático: abbaC; rima emparelhada e interpolada.

Disponivel em: http://www.lithis.net/3 . Acesso em: 02 fev. 2010.

Disponivel em: http://pt.wikisource.org/wiki/Como_morreu_quen_nunca_ben Acesso em: 02 fev. 2010.

Disponivel em: http://pt.wikisource.org/wiki/Mia_irmana_fremosa,_treides_comigo . Acesso em: 02 fev. 2010.

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